sexta-feira, 27 de junho de 2008

Metododologia e Produção Científica - A Rigidez Metodológica é Inimiga da Inovação?

Ao longo dos anos, temos observado atentamente os debates acerca da rigidez metodológica e suas conseqüências para o processo de produção científica.
Neste sentido, devemos destacar que todo e qualquer processo pretensamente científico pressupõe procedimentos que permitam repetição experimental e argumentação racional em sua defesa, entre outras coisas.
É, portanto, preciso compreender que não há nada de errado na elaboração e utilização de metodologias diversas. Porém, há de se considerar o quanto devemos nos dedicar ao método em detrimento do objeto de estudo.

Em maio de 1999, o filósofo Renato Janine Ribeiro publicou um artigo - intitulado “Não há maior inimigo do conhecimento que a terra firme” – na revista Tempo Social. Este esclarecedor artigo nos faz refletir acerca do quanto deixamos de nos dedicar efetivamente ao objeto de estudo para justificar metodologicamente o trabalho em questão e o quanto a rigidez metodológica limita a criatividade, a inovação e, por fim, o avanço científico.

Em nossa concepção acerca de métodos e produção científica, a posição é semelhante às demais questões da vida: o radicalismo geralmente é negativo. Ou seja, a metodologia tem um papel fundamental. Ela é o caminho para a análise do objeto de estudo, mas não é o objeto em si.
Ora, somos seres de pensamento livre, e a liberdade é uma emergência da pessoa que identifica necessidades e desejos, elabora hipóteses e as sistematiza.

O avanço científico nasce, justamente, da necessidade de investigar os novos paradigmas diante do questionamento de padrões e modelos reducionistas e fragmentados tão comuns no meio acadêmico.

A grande questão de tudo isso consiste no simples fato de que não estamos acostumados a pensar, a refletir. Inclusive, o próprio modelo pedagógico vigente no Brasil não estimula a reflexão. É só procurar livros didáticos de qualquer área para percebermos o incentivo à “decoreba” e não à compreensão dos fatos.

Não se deu por convencido? Pois bem, pense nos vestibulares, nos concursos públicos, e, finalmente, nas monografias. Os dois primeiros, salvo louváveis exceções, possuem ênfase no processo de estudo e memorização de respostas para questões que, geralmente, têm a formatação de “múltipla escolha”. Não bastasse isso, é muito comum encontrarmos, Brasil afora, monografias que se utilizam de Platão, Rousseau, Marx, entre outros para a discussão de temas
contemporâneos. Talvez estes autores rissem desta iniciativa metodológica.

É preciso esclarecer que não estamos pregando o abandono dos clássicos, tampouco da literatura como embasamento teórico. Mas é preciso ir além. A metodologia deve ser mais diversificada e flexível. Deve nos aproximar do objeto e não afastar.

Imaginemos que o objeto de nosso estudo seja o cotidiano dos deficientes físicos no Brasil. O que valeria mais, ler a respeito ou andar por alguns dias numa cadeira de rodas? Este exemplo possui diversos similares, mas o que gostaríamos de dizer é que a extrema rigidez metodológica aprisiona nosso pensamento, nossa criatividade e, por fim, o avanço na produção científica.

Portanto, se seu orientador instruí-lo a ler sobre a vida dos deficientes no Brasil para a compreensão do tema, aceite. Mas, convide-o a dar uma voltinha na cadeira de rodas.

Rodrigo Serravalle